Confesso
que não gostaria de tratar desse tema. Na verdade gosto de mexer com
a metafísica exatamente porque ela me mantêm longe de coisas não
essenciais, como o pragmatismo moderno. Minha preocupação com Deus
não veem de um desejo de salvação desenfreado, muito menos de uma
constatação de um lugar pós morte para descansar os pés. Nada
disso, minha preocupação a priori sempre será com a forma humana
do conhecimento, aquilo que não tenho a menor vergonha, de designa
“Deus”, no seu melhor sentido significa entender como tudo foi
feito, a teoria do conhecimento universal que não se preocupa com
aparências.
Acontece
que nem só de essencial vive o homem, um ser que para fugir da sua
própria ignorância inventa o lúdico, simboliza. Foi no exato
momento em que alguém se viu diferente dos outros animais, que ele
se apaixonou pela ideia de que sua diferença era de cunho simbólico.
A razão. Esse elemento que não aparece no sensível foi a desculpa
esperada para nos tornamos o que somos. E nos tornamos animais
simbolizadores.
Nada
contra o simbolo, o que seria da humanidade sem ele, seu único
problema reside quando este usurpa o lugar daquilo que ele mesmo
pretende simbolizar. Exemplo: Algum matemático passa a acreditar que
o simbolo que ele desenha na lousa de giz é um número, quando na
verdade o que têm ali é um rabisco. O número está longe de ser
aquilo, sua existência é metafisica e não se rende a existir fora
de lá. Outro exemplo é o teólogo que acha que seu livro é
sagrado, enquanto que o que é sagrado nem pode ser expresso em sua
completude na realidade física, pois não se rende a se tornar
texto.
Acontece
pior quando um teólogo se junta a um matemático para falar de
números e sobre o mal. A confusão generalizada está montada, dois
seres que aprenderam a amar os símbolos e esqueceram-se daquilo que
eles representam.
Fato
notável é que o mal é de fácil percepção, tão fácil que já
se chegou a negar a existência de Deus, ou de uma origem racional,
pela simplicidade dele ser possível. Uma convergência estranha, é
quando esse mal ganha um número. Um teólogo apologista do primeiro
século resolveu idealizar um número que possuía a característica
de representar o mal humano. Com a controvérsia posta, demorei muito
para entender que o simbólico, estava muito além da realidade. O
que esse homem fantástico estava apontando era que se os números
indicam uma possibilidade metafisica de ler o mundo, logo, o mal
teria o seu lugar.
Este
teólogo matemático não tinha as nossas aspirações de falar do
número, sua preocupação era entender como as coisas que estão
além de nós encarnam. Fez isso com a palavra, o logos, apresentando
a possibilidade dos conceitos da gramática se tornarem palpáveis,
faria isso com a possibilidade de um número apresentar a mesma
característica. Que homem brilhante! Fascinante é que os homens
absorveriam o mal e os cunhariam como marcas.
Naquela
época a economia era dominada pelo governo, moedas estampavam a
marca de um rei que essencialmente era mal, seu governo causava
destruição e sofrimento para todos, era o oposto do rei que este
teólogo tinha conhecido. Esse mal-rei, ostentava ser uma besta
destruidora que marcava a todos pela sua assinatura.
Aquele
número não era nada, o seu mal sim. Teogonias sempre existiram,
inclusive as numéricas. Números ainda indicam a presença do mal no
mundo. O sentido do mal se confunde com o sentido da vida, exatamente
pelo fato de que a vida é o eterno pedido da inexistência do mal.
Aqueles que aceitam o mal como resposta pela vida, estão de fato
condenados a serem marcados pelo domínio e sujeição deste mal.
O
sábio do primeiro século nos ensinou a olha para a origem do mal ao
mesmo tempo que nos ensinou a olhar o mal em nós. Não há chips,
códigos de barras, assinaturas presidenciais, ou ferros de marcar
cavalos que possam aplica em nós o mal. O mal está fora disso tudo,
o mal está presente em nós. Sua única cura é o movimento de
aceitação da vida em detrimento da morte. Mesmo que isto custe
exatamente a vida.
O
nosso grave problema é a marca de Caim. Recomendo que deixemos para
trás as idiotices de olharmos para o mal nos outros como medida para
fugirmos do nosso próprio. E que o mal humano seja o motivo do nosso
terror, e não as suas marcas.
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