Carta a um amigo que perdeu a mãe


Meu caro Marcos,

Espero que esta o encontre bem, e em paz em todas as coisas.

Soube há alguns dias da morte de sua mãe e da sua dificuldade de superar esse terrível sofrimento, me disseram dos seus questionamentos a Deus a respeito do por quê das coisas, e principalmente da sua vontade de suicídio. Além disso a situação se agravou pelo fato de você ter se mantido próximo a ela nos últimos dias.

Infelizmente não tenho nenhuma resposta ao seu sofrimento, poderia imitar aqueles que do seu lado manifestaram palavras e gestos dos quais eu sei que não lhe ajudaram muito, afinal, perder alguém tão importante não deveria ser diferente, e as palavras realmente não podem fazer o suficiente. Esclareço que lhe escrevi para o seu conforto, reconhecendo que poderei passar por sofrimento semelhante, mas nunca igual ao seu.

Em primeiro lugar, diante desse momento tão difícil, peço lhe perdão por não conseguir palpar o seu sentimento, é distante demais para mim. Cada sofrimento tem origem particular em cada ser. Seria impossível inventar um gráfico para dor, devido à relatividade do ser humano. Peço desculpas, ao tempo que digo que estou pessoalmente ligado à sua dor, apesar de não senti-la. Sou resultado de conflitos internos e externos como qualquer pessoa, o que me confere certa autoridade para ao menos refletir sobre isso.

Em segundo lugar pontuo aqui, a anatomia da dor, que implora por sentido, aquele pranto, que dizia assim:

-- Por quê meu Deus. Por quê?

Não era nada a não ser uma tentativa da sua própria alma de tentar descobrir um significado em meio a dor, é nesse instante que o que mais queremos é encontra uma resposta, que ela tenha um "por quê", o fazemos isso naturalmente. Rogo-lhe que essa pergunta lhe saia por um milésimo de segundo da sua mente e que seja substituída por outra, não menos importante, pergunte o “para que” disso. Sei que a primeira pergunta não tem resposta, o "por quê" das coisas só lhe servem para significar elas próprias, veja que você nunca perguntou o "por quê" de se ter um computador, embora sempre tenha perguntado, "para que" serve isto? Veja que esta base quase infantil foi que lhe conferiu a maneira mais simples de viver. Creio que ao se aproximar do “para que” descobrirá que a teia da existência sempre nos permite mais um fio, e esse fio pode fazer tudo mudar.

Em último lugar peço que aproveite o tempo que tem agora, para que a existência de sua mãe lhe sirva de norte. Dona Ester sempre foi a mais sorridente das mulheres, sempre lhe confortou quando algo saia errado, e acredite, ela não aguentaria que você morresse antes dela, por isso considere como missão te-la procedido, missão que a própria vida impôs.

Nos mais, peço que me tenha em compaixão, e continue a me ajudar nos meu próprios sofrimentos, até uma próxima.

Do seu amigo,


Rafael Sá


[A carta é fictícia bem como as personagens aqui mencionadas]

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

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