Sobre a felicidade




Felicidade, tema recorrente do mundo moderno, ou pós-moderno, não sou muito chegado a essas nomenclaturas, até mesmo porque a idade que chamam de idade das trevas foi provavelmente a idade mais digna da vida humana, evidente que não defendo a reclusão das literaturas, mas sou completamente contra a espiritualização vazia, sem sentido, empobrecida pela falta de referencial. Então, dessa forma é impossível reconhecer que somos uma geração de pessoas felizes. A idade antiga buscava o entendimento e a vida em família a idade média buscou a realização pelo viés religioso, a nossa era busca a realização pelo subjetivismo, somos realizados pelo que chamamos de sonho de liberdade, ou melhor sonho de felicidade.

Não quero me adentrar na questão epistemológica, embora a considere importantíssima, penso que ela fala do devir, ou seja do que determinada coisa deveria ser. Vou preferir tratar da questão ontológica, reconheço que o campo é minado perguntar pelo ser da felicidade é incrivelmente complicado. A proposto do blog é pensar a mente de forma repensada, pois bem, a relevância do tema em questão é orquestrada pela falta de entendimento do que se quer dizer com felicidade. 

A pergunta inicial é o que é felicidade? Na verdade é pergunta final também, a pergunta pela felicidade se transformou em um desejo pela felicidade.

Nas palavras de Gandhi, “não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho”. Com essa contribuição o líder pacifista transforma a felicidade de um devir para o próprio ser, ele personaliza a felicidade, de uma maneira lúdica transformando-a metaforicamente em um “caminho”. Dessa forma felicidade é o ser no meio, é a ponte do equilibro que liga aquilo que não é ao que é. Caminho é exatamente isso, então porque não somos felizes, se a felicidade é um caminho dado a todo ser humano? Simples, esquecemos o que tem do outro lado do caminho, esquecemos o motivo da jornada, esquecemos da peregrinação.

Então o que teria do outro lado do caminho? O próprio ser, eu definiria humildemente a felicidade como o caminho para o encontro com o “ser”. O estado que se encontra todo homem longe do ser é o estado do vazio, do nada. Está no não ser é o mesmo que dizer que estamos na angústia, ou pior no medo. Sim, pois a primeira gera a pergunta pelo ser, enquanto que a segunda é uma resposta ao ser, que o acaba por defini-lo e transformá-lo no caminho e não chegada.

Então, se a chegada é o encontro com o “ser”, onde fica o “existir”, lembrando que são categorias universais do ser humano. O existir é a categoria que nos lembra do tempo e do espaço, essas contingências, são as inquisidoras da consciência. Se lembramos do existir como o meio, então ele se confunde com a própria felicidade, ou é seu caminho contrário.Prefiro entender que em algum momento da existência ambas eram a mesma coisa, quando o processo da história nos transformou em escravos do tempo isso mudou, sendo que as duas se tornaram opostas. Penso que a felicidade aqui poderia ser pensado como o descanso do existir, quando por determinação da plenitude da história acertamos o caminho do “Ser”, nos tornamos felizes.

Como diria Bultmann “A interrogação acerca de Deus e a interrogação acerca de nós são idênticas”, Ao termos um encontro existencial com o ser de Deus, encontramos a felicidade, isso esclarece porque aqueles que ignoram a pergunta sobre Deus, possam se sentir felizes, na verdade encontraram uma, ou várias de seus atributos, isso pode acontecer amando alguém ou amando uma causa. Deve ser por isso que autores no Novo testamento afirmaram que “Deus é amor”, bom isso é assunto pra outro post, mas retornando a questão introdutória. Felicidade é tanto o meio pra se chegar ao ser como o descanso do não-ser quanto este se encontra com o atributo da divindade.


Termino e concordo com as palavras de Kierkegaard “A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”.

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Eu acredito em Papai Noel

Faltando apenas alguns dias para o dia 25 de dezembro, me coloquei a refleti sobre a data e seu significado. Não quero falar diretamente do legítimo representante da data, Jesus Cristo. Preferencialmente quero falar sobre um homem muito bom, que o defendeu em um período de crise na Igreja. Quero falar sobre o Papai Noel, ou melhor o bispo Nicolau.

Nicolau é um conhecido bispo da história da igreja, é certo que circundam sobre eles diversas crenças mitológicas que não ajudam muito. Gostaria de usar alguns dados concretos para falar sobre ele, mas antes é preciso fazer um resumo histórico da sua época.

Antes do concílio de Niceia, um dos mais relevantes para a história da igreja, os bispos e membros eram perseguidos e encarcerados  com ferocidade e por vezes executados pelas autoridades romanas. Os templos das igrejas eram confiscados e transformados em templos pagãos. Nesse clima surge o imperador Constantino que fundiu a igreja com o estado e soltou os prisioneiros cristãos.

Entre esses prisioneiros estava exatamente Nicolau, preso por recusar-se a negar sua fé em Jesus Cristo, foi chicoteado todos o dias no cativeiro. Logo depois de ser solto, a questão do arianismo, que negava a divindade de Cristo, era latente. E novamente, o Bispo de Mira, decide não negar a sua fé. Além disso participa ativamente no Concilio de Niceia, afirmando agora não só a historicidade de Cristo, como tinha feito antigamente, mas agora o Cristo da fé é mantido, sua divindade preservada na mente da Igreja, mesmo depois de passar por uma de suas maiores perseguições.

Esse Nicolau, que ganhou um novo nome “Noel”, dentro da tradição brasileira, perdeu seu significado. O símbolo do cristão fervoroso que repartia o que tinha com as crianças por entender a encarnação de Deus como um sinal de cuidado educacional e espiritual de todas as pessoas foi ignorado, sendo demonizado pela cultura materialista da modernidade. 

Agora ele já não defende a fé, pois os opositores da fé, o transformaram em um mago, um bruxo, um esquizofrênico, totalmente desnorteado da pura realidade, fadado a viver em um mundo de “magia”. Sinto verdadeira repulsa, ao simples fato de pensar o que aconteceria se o verdadeiro bom velhinho soubesse que o tinham transformado em um “pagão”, e por pagão não quero entender como aquele sistema religioso que não faça parte da religiosidade judaico-cristã, pelo contrário, pagão aqui se entende como um argumento do mal, uma ideologia que corrompe a consciência dos pobres, dos incultos, dos ignorantes. Corrupção que obriga milhares de perdidos em sua consciência coletiva a financiarem o mercado com as suas pequenas posses. 

Quero realmente acreditar em Papai Noel. Uma geração de Nicolaus deveria se erguer de uma igreja que se encontra em ruínas, para defender a fé fora de suas porteiras, para que se lute pela afirmação na fé no Cristo divino, no Cristo histórico. O único símbolo que pode ser adorado sem que se torne um “demônio”.

O maior legado que Nicolau deixou foi colocar Jesus Cristo no centro de sua vida, seu ministério, toda a sua existência. Precisamos sim voltar a acreditar em “Papai Noel”. 

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!