Espero que esta o encontre bem, e em paz em todas as coisas.
Soube há alguns dias da morte de sua
mãe e da sua dificuldade de superar esse terrível sofrimento, me
disseram dos seus questionamentos a Deus a respeito do por quê das
coisas, e principalmente da sua vontade de suicídio. Além disso a situação se agravou pelo fato de você
ter se mantido próximo a ela nos últimos dias.
Infelizmente não tenho nenhuma
resposta ao seu sofrimento, poderia imitar aqueles que do seu lado
manifestaram palavras e gestos dos quais eu sei que não lhe ajudaram
muito, afinal, perder alguém tão importante não deveria ser
diferente, e as palavras realmente não podem fazer o suficiente. Esclareço
que lhe escrevi para o seu conforto, reconhecendo que poderei passar
por sofrimento semelhante, mas nunca igual ao seu.
Em primeiro lugar, diante desse momento
tão difícil, peço lhe perdão por não conseguir palpar o seu
sentimento, é distante demais para mim. Cada sofrimento tem origem
particular em cada ser. Seria impossível inventar um gráfico para
dor, devido à relatividade do ser humano. Peço desculpas, ao tempo
que digo que estou pessoalmente ligado à sua dor, apesar de não
senti-la. Sou resultado de conflitos internos e externos como qualquer
pessoa, o que me confere certa autoridade para ao menos refletir
sobre isso.
Em segundo lugar pontuo aqui, a
anatomia da dor, que implora por sentido, aquele pranto, que dizia assim:
-- Por quê meu Deus. Por quê?
Não era nada a não ser uma tentativa
da sua própria alma de tentar descobrir um significado em meio a
dor, é nesse instante que o que mais queremos é encontra uma resposta, que ela tenha um "por quê", o fazemos isso naturalmente. Rogo-lhe que essa pergunta lhe
saia por um milésimo de segundo da sua mente e que seja
substituída por outra, não menos importante, pergunte o “para
que” disso. Sei que a primeira pergunta não tem resposta, o "por quê" das coisas só lhe servem para significar elas próprias, veja que
você nunca perguntou o "por quê" de se ter um computador, embora sempre
tenha perguntado, "para que" serve isto? Veja que esta base quase
infantil foi que lhe conferiu a maneira mais simples de viver. Creio
que ao se aproximar do “para que” descobrirá que a teia da
existência sempre nos permite mais um fio, e esse fio pode fazer
tudo mudar.
Em último lugar peço que aproveite o
tempo que tem agora, para que a existência de sua mãe lhe sirva de
norte. Dona Ester sempre foi a mais sorridente das mulheres, sempre
lhe confortou quando algo saia errado, e acredite, ela não
aguentaria que você morresse antes dela, por isso considere como
missão te-la procedido, missão que a própria vida impôs.
Nos mais, peço que me tenha em
compaixão, e continue a me ajudar nos meu próprios sofrimentos, até
uma próxima.
Do seu amigo,
Rafael Sá
[A carta é fictícia bem como as personagens aqui mencionadas]